Como a quiropraxia funciona? - Rael Rosa | Quiropraxia

Rael Rosa | Quiropraxia

Como a quiropraxia funciona?

Comumente escutamos que “o osso está fora do lugar” e que precisa ser “colocado no lugar”, para realinhar a coluna. Essas são situações comuns para descrever que um osso da coluna se moveu do lugar onde deveria estar.

Quando a quiropraxia foi fundada, eles descreveram o que estavam tratando e chamaram de subluxação vertebral. Ao dividir essa palavra, descobrimos que ela descreve um osso ligeiramente fora do lugar.

Sub = menor que

Luxação = deslocamento articular

Subluxação = menor que um deslocamento articular

Entretanto, muita coisa mudou desde que a definição original foi descrita há mais de 120 anos. Com o desenvolvimento tecnológico como as ressonâncias magnéticas, as eletroneuromiografias e com o contínuo estudo científico, nosso entendimento da coluna e os possíveis sintomas associados têm melhorado cada vez mais.

Atualmente nós sabemos que a teoria do osso “fora do lugar” está incorreta. As vértebras da coluna não saem do lugar, a menos que haja uma séria lesão que cause esse deslocamento.

Mesmo com o avanço dos estudos, isso ainda é um equívoco comum. Alguns quiropraxistas e outros profissionais da área da saúde falam para os pacientes que eles estão desalinhados. Existem faculdades de quiropraxia que continuam utilizando esse termo, mostrando maneiras de descrever como a vértebra mudou de posição.

A definição de subluxação também tem mudado com o passar dos anos e pode significar diferentes coisas, dependendo do quiropraxista que você está conversando.

Portanto, o que estamos tratando?

Ainda não existem estudos suficientes para afirmar, porém existem teorias com estudos para reforçá-las. Mas antes disso, vamos olhar para a estrutura de uma articulação e entender o famoso “creck”.

A cavitação articular

Quando um quiropraxista trata a coluna, o objetivo é aplicar um impulso de baixa amplitude e alta velocidade na direção que separe as duas superfícies opostas da articulação, afastando-as.

Com a separação rápida da articulação, o líquido sinovial fica preso entre duas superfícies articulares devido à súbita diminuição de pressão, o que é chamado de adesão viscoelástica. É exatamente como ocorre ao levantar um copo de uma superfície molhada, onde a água fica presa entre dois objetos e prende o copo.

Com as superfícies articulares continuando a se separar, a pressão negativa se torna muito grande para o líquido sinovial, ocorrendo um processo chamado de tribonucleação. Isso acontece quando a pressão fica baixa o suficiente para criar um vácuo e os gases dissolvidos no líquido comecem a evaporar.

A nova bolha de gás é mais fácil de esticar do que o líquido, fazendo com que as articulações sejam capazes de se separar mais facilmente. À medida que cresce, a pressão na bolha continua a diminuir e os gases continuam a infiltrá-la.

A seguir, o líquido sinovial das bordas não afetadas da articulação começa a se mover em direção à bolha de cavitação. A diferença imensa de pressão faz com que os lados da bolha se colidam com grande força, dando origem ao som de estalo que conhecemos. Todo o processo leva alguns milissegundos e sua mecânica exata ainda é debatida até hoje.

Após a cavitação, os gases que evaporaram da bolha permanecem no local e demoram de 20 a 30 minutos para dissolverem por completo. Apenas depois da completa dissolução é possível “estalar” novamente. Nem todas as articulações são capazes de realizar esse processo; estudos experimentais mostraram que as articulações com espaço inicial de aproximadamente 1,4 mm de separação não podem ser estaladas.

Com essa informação sobre a cavitação articular, pode-se entender que os benefícios da quiropraxia não se originam nela. O verdadeiro segredo da quiropraxia é o repentino distanciamento das articulações e dos tecidos adjacentes. Abaixo serão descritas algumas teorias que explicam o porquê.

Teoria 1: O modelo de neuroplasticidade

Com o passar das últimas décadas, estudos mostraram que o impulso de alta velocidade e a baixa amplitude na coluna pode gerar vários efeitos no sistema nervoso da pessoa. Estudos da Haavik e Murphy tem se atentado a explicar os achados pelo desenvolvimento do modelo de neuroplasticidade.

Eles resumiram sua teoria chamando de subluxação uma área onde o “sistema nervoso central não está controlando o padrão de movimento do segmento espinhal como deveria, alterando o alongamento dos músculos paravertebrais que mudam a entrada para o cérebro que então impacta como ele processa outras informações”.

Resumindo ainda mais: áreas da coluna param de ser controladas corretamente e isso leva a problemas futuros no modo como o cérebro percebe o mundo a sua volta, causando menos funcionamento do sistema nervoso.

A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se reorganizar, formando novas conexões neurais. Isso ocorre a todo o momento e pode levar a adaptação do cérebro para bons e maus hábitos.

Nesse modelo, os pesquisadores acreditam que o cérebro se adapta aos sinais contínuos incorretos causados pelas áreas de disfunção na coluna vertebral, reorganizando-se para aceitar esses sinais como normais. Esse processo leva o sistema nervoso a interpretar outras informações sensoriais incorretamente e resulta em um controle do corpo inferior ao que deveria ser.

Com base nessa teoria, o quiropraxista consegue restaurar a função cerebral através dos ajustes, causando rápido alongamento dos músculos paravertebrais e os tecidos em volta, melhorando os sinais enviados para o cérebro. Essas adaptações negativas ajudam a explicar por que a quiropraxia melhora aspectos do sistema nervoso, que à primeira vista não possuem relação com a coluna, incluindo:

  • Diminuição do tempo de reação;
  • Aumento da força muscular dos membros superiores e inferiores;
  • Prevenção do desenvolvimento de fadiga muscular em algumas áreas;
  • Redução de erro da posição espacial;
  • Melhoria ou alteração da acuidade visual e tamanho do campo visual.

Teoria 2: o modelo de adesão

O pesquisador Gregory Cramer desenvolveu uma teoria de que a disfunção espinhal surge de adesões que se formam em ambos os lados das articulações da espinha. Ele teorizou que os ajustes abririam a articulação, causando o rompimento das adesões e permitindo que ela se movesse e funcionasse corretamente.

Pode-se pensar nas adesões como fios tênues de fibra que se acumulam entre as estruturas, que podem variar de fibras semelhantes a teias de aranha até faixas grossas que podem manter fisicamente as estruturas unidas.

Para testar essa teoria, Cramer e sua equipe usaram um modelo animal no lugar de humanos por razões éticas. Ele investigou o local das adesões e o que acontecia quando se promovia imobilização dos segmentos da coluna, por meio de um dispositivo implantando cirurgicamente. Em teoria, isso seria análogo a uma pessoa que é inativa e não move as articulações com frequência, comparando então o grupo imobilizado com um grupo controle que tinha permissão para mover-se livremente.

O estudo obteve resultados interessantes. Primeiramente, tanto o grupo controle quanto o experimental tiveram pequenas adesões presentes em suas articulações. Portanto, não importa o quão imóvel as articulações estejam, pequenas adesões se desenvolverão. Eles também encontraram que as adesões se tornavam mais numerosas e espessas quanto maior o tempo imóvel. As articulações do grupo controle eram muito menos propensas a desenvolver alteração de adesão de tamanho médio ou grande.

Um estudo subsequente envolvendo Cramer descobriu que duas semanas de ajustes quiropráticos na coluna lombar causaram mais lacunas nas articulações do que o alongamento de forma isolada. Esse espaçamento adicional pode ajudar a explicar por que os ajustes quiropráticos são uma boa ferramenta para quebrar adesões nas articulações.

Resumindo

Ambas as teorias apresentam seus pontos fortes e suas fraquezas, onde na primeira não se é explicado o que pode causar inicialmente essa alteração nos movimentos dos músculos da coluna e o porquê elas voltam após a correção. Há a teoria de que poderia ser originado de algo prejudicial, como um trauma físico, má postura, problemas de saúde mental ou outros fatores como estilo de vida. Em seu estudo, Haavik e Murphy propuseram que o funcionamento alterado do sistema nervoso causado por uma área de disfunção espinhal leva a uma disfunção adicional, a chamada subluxação, criando um ciclo de feedback prejudicial. Entretanto, não há estudos que evidenciam essas explicações. Enquanto na teoria das adesões articulares há uma investigação apenas para o que ocorre no espaço intra-articular das articulações da coluna vertebral, sabe-se que elas podem estar presentes em outras áreas do corpo, como nas articulações do joelho, ombro e mandíbula (além do fato de os testes terem sido realizados com ratos e não humanos). Outro ponto é que não apresentaram uma relação com o sistema nervoso central, como oferecido pela primeira através da teoria da neuroplasticidade.

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