O ato de ranger os dentes, especialmente durante o sono, pode desencadear sintomas, como: dor na zona da mandíbula, cefaleia, sobrecarga e dor nos músculos da face e cervical, sensibilidade nas peças dentárias e, principalmente, comprometimento da função da articulação temporomandibular (ATM).
Em geral, o bruxismo ocorre de maneira inconsciente, comumente classificado como resultado de uma situação de ansiedade e alto nível de estresse, uma vez que, na sociedade atual, lidamos com situações extremamente delicadas, tendo o estado de sobrecarga emocional refletido diretamente na saúde física, inclusive nas articulações, músculos e sistema nervoso. Segundo a Associação Brasileira Odontológica, através de dados publicados pela Organização Mundial da Saúde, cerca de 30% da população mundial lida com o bruxismo e 40% dos brasileiros sofrem do mesmo problema, que também pode ser desencadeado por fatores genéticos e outras patologias.
Durante uma oclusão correta da boca ocorrem movimentos equilibrados e protetores, já em indivíduos com bruxismo, os dentes podem sofrer de sensibilidade e em níveis mais extremos pode ocorrer a diminuição considerável da espessura das peças dentárias, levando ao movimento alterado da articulação. O ato de apertar os dentes, dependendo da força, também pode colaborar com fraturas, tornando essencial o acompanhamento odontológico.
O uso de uma placa de oclusão ou protetores bucais, modelados de acordo com a mordida do paciente, é colocada interposta entre as peças dentárias superiores e inferiores, que pode auxiliar na proteção durante o movimento de apertar os dentes. Para isso, é necessário que o profissional realize a marcação da oclusão com papel de carbono por exemplo, que identifica através da tinta os diferentes contatos, resultando no registro da oclusão.
No geral, para qualquer ação é necessário a interação do sistema nervoso e determinado grupo muscular a fim de possibilitar o movimento. O músculo masseter é considerado o mais forte do corpo humano e possui papel fundamental durante a mastigação, junto com os músculos temporal, pterigóideo medial e pterigóideo lateral, através da sua interação com o osso temporal, mandíbula e com a articulação temporomandibular.
A ATM aliada com os ossos e músculos, faz parte do sistema estomatognático, controlado pelo sistema nervoso central, onde realizam as funções de sucção, deglutição, fala, mastigação e respiração. A articulação é classificada como sinovial, por causa da liberação do líquido sinovial para sua lubrificação e nutrição, através da cápsula articular durante os movimentos. Também é classificada como elipsóidea, caracterizada pelas superfícies articulares discordantes, ou seja, uma côncava e a outra convexa, com raios de curvatura desiguais, e nomeada biaxial, pois possui dois eixos de movimento. É importante salientar que o disco articular, que tem como função o amortecimento e distribuição de cargas, ao sofrer pressão excessiva durante o bruxismo e disfunção temporomandibular, pode acabar tendo uma degeneração rápida, visto que o disco articular da ATM, assim como os discos intervertebrais, não recebem nutrição em sua região central (zona intermediária), apenas vascularização e inervação ao longo de sua periferia, tornando difícil a sua recuperação.
Durante o movimento funcional da ATM, ocorre primeiramente a rotação e em seguida a translação do côndilo mandibular para fora da fossa condilar, levando a mandíbula para frente e o disco deslizando da porção posterior para a região intermediária, durante a abertura da boca. Para a oclusão, ocorre a retração e a elevação da mandíbula, resultando na posição de congruência máxima caso necessite de força, ou na posição de repouso, considerada a maneira correta de permanecermos na maior parte do tempo, com os lábios próximos e dentes que não se mantêm em contato, e sim discretamente afastados.
Principais músculos participantes dos movimentos realizados na ATM:
-M. masseter: elevação e protrusão da mandíbula;
-M. temporal: elevação e retração da mandíbula;
-M. pterigóideo medial: elevação, protrusão e desvio lateral da mandíbula;
-M. pterigóideo lateral: depressão e protrusão da mandíbula.
A disfunção temporomandibular (DTM), é caracterizada por alterações na região da articulação da mandíbula durante os movimentos, como: dor, limitação na amplitude de movimento articular, cefaleia, tontura, ruídos, zumbidos no ouvido, dor cervical e dores na face. As principais causas são o bruxismo, traumas, ranger e pressionar os dentes, mordida cruzada, dente do siso, uso prolongado de chupeta ou mamadeira durante a infância, mascar chiclete excessivamente e mastigar somente de um lado da boca.
Dentre os problemas nos músculos da ATM, a síndrome da dor miofascial é comum e pode ocorrer em pacientes com uma articulação funcional ou não, caracterizada pela dor provocada por ponto-gatilho, que pode ser sentido como um nódulo de músculo mais tenso que o normal. A palpação de pontos-gatilho pode provocar dor em um local diferente (dor referida) e são originados pelo uso excessivo dos músculos da mastigação, sobrecarregados durante o ranger dos dentes. Um ponto-gatilho é formado por vários nódulos nas fibras musculares, que contraem e não conseguem voltar para a forma relaxada. As contrações contínuas dos sarcômeros, durante a tensão, diminuem o fluxo sanguíneo local, resultando na falta de suprimento energético em determinada área, ativando os nociceptores, que geram um padrão de dor regional específico.
Os principais responsáveis pela dor miofascial na área da ATM, são os músculos pterigóideos. Pontos-gatilho no pterigóideo medial referem dor à região da ATM na frente da orelha, parte superior externa do pescoço, parte interna da boca, além de dificuldade para engolir e sensação de garganta dolorida. Dor nos pontos-gatilho no pterigóideo lateral pode ser sentida na frente da orelha e na região superior da mandíbula.
Tratamento quiroprático em pacientes com bruxismo e DTM
Durante a avaliação realizada por um quiropraxista graduado, será observado minuciosamente a simetria facial, postura, oclusão dentária, falta de dentes e perfil facial. Podem ser solicitados exames para verificar a amplitude de movimento cervical e da articulação temporomandibular, bem como a classificação de sua amplitude funcional. Após o profissional definir o diagnóstico, a quiropraxia atuará de modo relevante na questão neuro-músculo-esquelética, uma vez que, a musculatura envolvida na ATM, como os músculos pterigóideos, pode tracionar o disco articular, sendo de fundamental importância o reestabelecimento do posicionamento correto da articulação, juntamente com o acompanhamento odontológico.
Segundo o estudo realizado por pesquisadores do Canadá e a universidade brasileira Nove de Julho, publicado em 2014 no BioMed Research International, a disfunção na articulação temporomandibular possui forte relação com alterações na coluna cervical, bem como a hipersensibilidade nos músculos trapézio superior e temporal pode influenciar nas estruturas do pescoço e ATM. Muitos estudos direcionam para a alta correlação entre a DTM e a cervical devido ao núcleo trigeminocervical, responsável pelo recebimento de fibras de nervos, como o trigêmeo (principal par craniano relacionado com a articulação temporomandibular e sensibilidade da face), e dos nervos espinhais cervicais superiores (que passam pelas vértebras da cervical alta), o núcleo atua como ponto de convergência de informações entre os nervos, justificando a influência da disfunção na cervical alta com a cefaleia. Através da quiropraxia, o profissional poderá corrigir as áreas que necessitam de atenção na coluna vertebral, melhorar a mobilidade e a atividade do sistema nervoso, tendo influência na funcionalidade do núcleo trigeminocervical e colaborando na melhora da dor e qualidade de vida.
Uma abordagem multidisciplinar, com participação da quiropraxia, é capaz de reduzir a tensão muscular, aliviar a intensidade e frequência das dores, diminuir e acabar com o uso de medicamentos e acelerar o processo de melhora durante o tratamento.